Na Espiritualidade Inaciana, ao elaborar o Projeto de Vida, é pedido ao exercitante de eleger uma Consigna; uma frase, um lema ou uma palavra-vida, que sintetize a intuição central do Projeto de Vida. Madre Maria de Jesus, em seu Projeto de Vida, tinha consciência de que tinha diante de si um longo caminho que exigiria dela manter o coração aquecido e firme na fé e nesta Palavra-Vida: “Coração de fogo, Vontade de ferro”, ela encontrou a mola propulsora em sua missão.
Por sua história, exemplos e ensinamentos deixados, Madre Maria de Jesus foi uma mulher que experimentou muitos desafios e sofrimentos em todo o seu itinerário pessoal e missionário, mas, nunca parou em nenhum entrave; a graça Deus ajudava a superá-los.
Pensemos nesta mulher, determinada, corajosa, confiante na vontade de Deus que a guiava e conduzia, certa de que não caminhava sozinha. Aliada à sua esperança e fé determinadas, Madre Maria de Jesus empreendeu um caminho de adesão e entrega à Vontade Absoluta de Deus. Não sabia onde iria dar aquele caminho, sabia apenas em quem depositava sua confiança e esperança e no profundo do coração, sabia que Ele fazia o seu caminho, mesmo entre tantas adversidades.
Podemos ver esta mulher, que nos idos anos de 1913, deixou sua terra natal, a França, por causa de um sonho, de um apelo missionário. E não era um sonho qualquer, ou mesmo um sonho puramente pessoal. Era um sonho de amar e servir. Ela nutria em seu coração uma vontade firme, resoluta, decidida a tudo fazer, para seguir o Chamado que batia insistente em seu coração.
Sarah, como era seu nome de batismo, desde a infância teve o coração abrasado de amor pelo Senhor, pela missão. Em sua juventude via-se no caminho sem retorno do Seguimento à voz daquele que era o único Pastor, que a conhecia e chamava pelo nome. Ela também conhecia a voz do Bom Pastor que aquecia seu coração e o incendiava por dentro.
Perguntemo-nos, por que Madre Maria de Jesus escolheu esta divisa: Coração de fogo, Vontade de ferro? É algo tão original, que se olharmos a sua história, veremos que se aplica verdadeiramente a ela! Madre tinha o coração de fogo. Sabia-se possuidora de uma força interior capaz de fazê-la vencer os pequenos e grandes obstáculos, simplesmente porque o projeto no qual ela acreditava não era dela. Como para os discípulos de Emaús, seu coração ardia em fogo e explodia por dentro e não era possível ficar parada e estava certa de tudo fazer para que nada lhe “roubasse a esperança”, nada lhe “roubasse o sonho missionário”, lembrando as palavras do Papa Francisco: “Não deixemos que nos roubem a esperança! Não deixemos que nos roubem a missão!”.
No coração da Madre, o Senhor acendeu como uma tocha, iluminou seus caminhos e a fez passar por vales e penhascos, ferindo-se muitas vezes, mas prosseguindo com passos firmes, certa do que o Senhor a sustentava. Nada foi capaz de demover Madre Maria de Jesus do caminho, porque ela possuía uma vontade genuína de ser, e mesmo consciente de que o preço das renúncias seria alto, ela seguiu rumo ao ideal que norteava seu caminho. Diz Sêneca em seu pensamento: “se a pessoa não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável”. Madre Maria de Jesus conhecia bem quem a chamava, e mesmo se nem tudo era claro neste caminho, ela sabia o rumo certo do porto ao qual se dirigia e a mão protetora do Senhor era o vento favorável que a conduzia. E aquela mulher, caminhou de cabeça erguida, impulsionada pela graça de Deus e por seu coração de fogo. A chama é a alma de um fogo e a chama do amor de Deus no coração de Madre era a alma do fogo que a aquecia por dentro e iluminava o seu caminho.
Madre, assumiu para si este simbolismo do coração de fogo. O coração de Jesus em chamas, indicando-nos que o amor do Senhor está vivo e atual. Significa que Deus continua um Deus apaixonado pelo ser humano e ele conta também com nossos corações em chama para manter vivo e atual o seu amor. Ele quer aquecer nossos corações e através de nós, aquecer os corações de tantos com sua presença edificante, amorosa e salvadora, através de nosso amor. E o coração da Madre aquecido pelo AMOR, firme e resignado, soube viver as virtudes da Humildade, da Simplicidade, da Caridade, do Zelo e do Acolhimento.
O que significa o simbolismo do ferro? Quando procurei o significado, encontrei que o ferro é um elemento com qualidades de firmeza, resistência, solidez e força. Mas o que mais me fez pensar é na qualidade de ser maleável. Fui à procura do significado de maleável no dicionário e mais uma vez fiquei rezando as definições: maleável é aquilo que tem elasticidade, aquilo que é flexível, dobrável, que pode ser amaciado, abrandado, dócil, capaz de se adaptar às diferentes situações e circunstâncias. Não parece paradoxal? Ferro, resistente, forte, duro e ao mesmo tempo moldável, flexível, elástico, dócil.
Madre Maria de Jesus foi a Mulher que teve uma vontade de ferro. Mulher que tinha uma força interior firme, ardente, criativa, determinada, tenaz. Mulher resistente, de fé sólida. Forte como o ferro, mas maleável. Sim, Madre foi uma mulher maleável nas mãos de Deus. Deixou-se conduzir. Deixou-se dobrar, moldar, mesmo em situações adversas. Deixou-se amaciar diante das rígidas normas tão próprias de seu tempo. Deixou-se abrandar diante da fúria de tantas tempestades que se abateram sobre ela, sobre o seu sonho que era o sonho de Deus: a sua cara Congregação! Foi dócil aos apelos do Senhor, foi dócil diante das incertezas, pois sabia que o que era de Deus não podia morrer. Mulher do Coração de fogo e Vontade de ferro! Ela viveu tudo isso de forma muito intensa e por isso tem autoridade de nos convidar a seguir seus passos na concretização da Vontade do Senhor.
Nossa Congregação foi um sonho, nascido do coração de Deus, aquecido e trazido no coração de fogo da Madre para o Brasil, como pequena semente, cercada de cuidado e proteção e defendida com a força de sua vontade de ferro para que nada pudesse impedir esta semente de germinar e produzir os frutos que deveria produzir. Esta semente tinha uma destinação: ela era destinada a se tornar uma grande árvore e produzir muitos frutos. E ninguém pode prender um sonho e impedir alguém de sonhar. Ninguém pode impedir o destino da semente. E, se ela encontra um terreno propício e cuidados, ela brota e cumpre a missão para a qual veio.
Olho nossa Congregação, sua história, permeada em todos os ângulos pela história desta mulher que foi Madre Maria de Jesus, pequenina lionesa. Penso que Lyon não conheceu a mulher e não conhece esta história. Orgulhar-se-ia de saber desta pequena notável. Mas quem contará sua história? Sei que isso não importa muito, pois o maior louro de sua vitória é continuarmos a fazer a Congregação prosperar, que possamos permanecer unidas ao Tronco que é o Senhor de onde provém a Seiva da Vida. E que nossa Congregação, pequenino galho da Videira que é Jesus, possa manifestar a glória do Pai dando muitos frutos.
Ir. Maria Adelma Ferreira – RMNSD é Especialista em Mariologia pela Faculdade Dehoniana
