Acompanhemos nossas queridas Madre Maria de Jesus e Madre Maria Miguel do Sagrado Coração em viagem da França para o Brasil. No livro TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE MADRE MARIA DE JESUS encontramos a descrição desses dias que antecederam a chegada ao Brasil:
“Encerramos o ano letivo um pouco mais cedo que de costume.
Despedi-me de minha Família, com sentimentos recíprocos de imensas saudades…
Tomamos a liberdade de interromper aqui a palavra de Notre Mère, para citar um gesto de filial carinho, que, por motivo de abnegação pessoal, foi por ela metida em sua narrativa:
A fim de assinalar a última visita de sua família que partir para o novo mundo, e que nunca mais tornariam a ver, Monsieur e Madame Gayetti, ofereceram-lhe um jantar íntimo, em que tomaram parte todos os membros da família. Com sua característica simplicidade, quis a Madre Fundadora, nesse dia, sentar-se nos joelhos desceu estremecido pai, como o fazia nos bons tempos da infância… Foi assim que ela recebeu a derradeira benção e os últimos carinhos de sua santa mamãe, a quem sempre consagrou profunda admiração.
Com edificante generosidade, os bons pais renovaram ao Senhor o inteiro sacrifício de sua primogênita – nova Joanna d’Arc, que deixava grande Pátria para salvar o Instituto – pequena Pátria de seu coração…
Nossa Madre está retomando a palavra. Ouçamo-la:
“Saímos de Lyon, nos últimos dias de julho e nos dirigimos a Luré. Fomos visitar Madre Maria dos Anjos que ali permanecia como diretora de um colégio de nível primário. Lá nos detivemos alguns dias, seguindo para Marselha, onde chegamos a 7 de agosto, para que houvesse tempo de visarem nossos passaportes e de providenciarmos outros documentos necessários ao embarque.
Raiou o dia 10 de agosto… era domingo. O sol radioso iluminava nosso último dia na bela terra de França… De manhã, bem cedo, fomos ao Santuário de Notre Dame de la Garde, para ouvir a Santa Missa e receber a sagrada comunhão… a última Comunhão com uma hóstia francesa…
Em seguida, fomos assistir a uma segunda Missa, na Igreja Saint Etienne. Era a última Missa na terra natal… Celebrava-se a festa de São Lourenço. Após o Evangelho, um sacerdote subiu ao púlpito e pronunciou uma curta homilia sobre as palavras de Tertuliano: “O Sangue dos Mártires é semente de cristãos!…”
Desenvolveu esse tema, explicando que toda grande obra, para prosperar, deve ser fecundada pelo sofrimento. Como exemplo, citou a Igreja que, nascida no Calvário, floresceu fecundada pelo sangue dos Mártires. Esse singelo comentário evangélico tão apropriado à nossa situação, muito me comoveu. Não pude conter as lágrimas.
Após o Santo Sacrifício, encaminhamo-nos ao cais da “Joliette”, onde se achava atracado o vapor. Devia sair do porto às 10h; entretanto, só partiu às 15h10.
O navio levantou âncora, e, lentamente, afastou-se do porto, ao som da Marselhesa… Fiquei debruçada no tombadilho, e, de lá, não me retirei, enquanto pude contemplar, ao longe, as costas de minha França… Sucessivamente, acenderam-se os faróis. A colossal imagem dourada de Notre Dame de la Garde parecia enviar-me a última Benção…”
Traços biográficos de Madre Maria de Jesus. Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores, Rio de Janeiro, p. 81-82, 1966.