“Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20) Caro Irmão, cara Irmã, este é o lema da Campanha Missionária 2021, que leva a Igreja a refletir o que é a missão e qual o nosso papel como missionários, sobretudo neste contexto pandêmico que VIVEMOS.
“Jesus é Missão”. Missão é viver a compaixão; é cuidar e defender à vida como um todo, principalmente a dos mais vulneráveis. Se a missão é CUIDADO, logo precisamos entender o que é o cuidado, para realizarmos bem a nossa missão, pois somos todos missionários e missionárias do Pai. A Igreja é missionária!
O CUIDADO é um toque de amor que cura. Cuidar é aproximar-se; é devotar ternura, afeto, DEIXAR-SE “tocar” e TOCAR a fragilidade do outro, a miséria, a situação humana mais dolorida e sofrida; é sentir o outro. E aqui podemos destacar o Nazareno, como esse homem do cuidado, do toque, do amor, que tantas vidas curou e libertou.
A dinâmica do cuidar-se e deixar-se cuidar pelo outro é fundamental para nossa existência, de maneira especial neste contexto de pandemia. “Sem cuidado o ser humano se definha e morre”. O cuidado nos ajuda a viver com mais intensidade a nossa humanidade.
Quem não cuida, não está pronto para deixar-se cuidar. A ideia de que “podemos tudo”, tira de nós a certeza de que precisamos do outro e que o outro precisa de nós…
Um Padre me disse uma vez: “Às vezes é preciso que todo mundo faça a EXPERIÊNCIA de adoecer, pois muitas vezes, somente a doença nos dá humildade para acolher a nossa fragilidade”.
CUIDAR COM PAIXÃO!
O Missionário, a Missionária precisa ser esse ser de cuidado e de ternura. Cuidar é defender as vidas, mas viver também a experiência de ser cuidado. O lema da Campanha Missionária/2021, nos convida a não deixarmos de falar do que vimos e ouvimos, e eu acrescento ainda a palavra vivemos. Partilho com vocês para ilustrar essa reflexão, uma experiência forte de cuidado que vivi em meus primeiros meses de missão nos Camarões-África.
A malária é uma das doenças que ainda faz sofrer o nosso povo africano, assim como a febre tifoide. Um pouco mais de um mês que eu havia chegado aos Camarões, adoeci! O famoso Paludismo (Malária) e a febre tifoide me batizavam ali. Fui para o hospital e o médico logo deu o diagnóstico positivo dessas doenças e disse-me: – você deve ficar aqui no hospital pelo menos por três dias, para fazer o tratamento, pois está muito elevado o nível do seu paludismo.
Esse não era o meu desejo, sempre tive uma excelente saúde, jamais havia passado uma noite internada em um hospital, mas como sempre, tudo tem sua primeira vez, a minha havia CHEGADO… Eu estava diante da minha fragilidade e naquele momento tudo que precisava era de ser cuidada. Fui para o quarto, o médico prescreveu todos os medicamentos, entre eles a Cloroquina que é tomada na perfusão e então comecei o meu tratamento… Recebi várias visitas durante o tempo em que fiquei internada, característica sublime do povo TUPURI.
No terceiro dia, a Irmã saiu para ir em casa buscar o almoço para mim, e então fiquei só no quarto, alguns minutos depois chegaram dois Padres para visitar-me, e brincando eles disseram: -Irmã, você está só? Na nossa cultura, o doente não pode ficar só. E no mesmo tom de brincadeira, respondi-lhes: – Não estou só! Vejam! Vocês estão aqui comigo, tenho visita a todo o momento.
E ali conversamos, rezamos e eles foram embora. Um momento depois a febre veio de uma vez e muito forte, (causada pelo efeito da cloroquina que passava muito rápido), e eu comecei a tremer, de maneira que a cama se movimentava. Gritei! Gritei! Gritei pedindo ajuda e ninguém aparecia. Eu já não tinha mais forças, a boca já estava tão seca que a voz já não saía. Não tinha nada que eu pudesse fazer! Fechei os meus olhos e pedi a Nossa Senhora que não me deixasse morrer, que me ajudasse. De repente quando abri os olhos, vi que alguém passava apressadamente na frente da janela do meu quarto e abriu a porta de uma vez, pegou todos os lençóis e toalhas que haviam ali, me embrulhou e saiu correndo para buscar outra medicação para baixar a febre. Era um gentil enfermeiro, um grande missionário.
Logo ele voltou, aplicou o medicamento na minha veia e segurou a minha mão num verdadeiro toque de amor e cuidado; senti naquele momento a mão de Deus. O calor de suas mãos ia me aquecendo e pouco a pouco a febre foi desaparecendo. Aquele enfermeiro ficou ao meu lado, segurando a minha mão até o momento em que a Irmã chegou… Fiquei hospitalizada durante seis dias.
Essa experiência marcou toda minha vida missionária ali, junto aquele povo e eu jamais esquecerei. Essa experiência me fez compreender verdadeiramente o que é a missão.
Em qualquer trabalho que desempenhamos ou qualquer missão que estamos, devemos cultivar a sensibilidade que nos faz tocar e cuidar do outro com amor, e na gratuidade, quando na verdade ele nada pode nos oferecer além da sua fragilidade. Missão é cuidar! Missão é um toque de amor que cura, que liberta, que gera e transforma vidas. Jesus é Missão!
Por Irmã Marinéia de Jesus Silva – RMNSD